O retorno dos déficits: a política monetária resiste

 

 

 

 

 

 

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Alguns analistas sustentam que há um ambiente econômico favorável, resultado de uma significativa desaceleração das taxas de inflação e da expansão do PIB, conseguida de indicadores muito favoráveis no mercado de trabalho. Outros, ao contrário, mostram maior preocupação com o desequilíbrio fiscal nos próximos dois anos e com a reversão dos resultados primários obtidos na administração anterior.

Até agora, somente a política monetária tem mantido de consistência macroeconômica, sendo conservadora na redução da taxa básica da economia. A taxa Selic se mantém elevada dada as incertezas vigentes. Além disso, o teto de gastos, que limitava o crescimento da despesa primária ao IPCA, será substituído pelo novo arcabouço fiscal.

Esta nova regra fiscal vem sendo criticada por não garantir a estabilidade as contas públicas e por estar ancorada no necessário aumento da carga tributária. Define-se um teto de crescimento do gasto primário, limitando-o a 70% ou 50% da expansão real da receita primária, bem como se flexibiliza a variação real da despesa, definindo limites: um mínimo (0,6%) e um máximo (2,5%). Resta saber se a combinação das regras operacionais conseguirá conter o crescimento vegetativo dos gastos, quando o governo não demonstra apreço pela contenção fiscal. Lembrando a história recente, as regras de vinculação orçamentária, a valorização real do salário mínimo, os déficits primários sucessivos, o incentivo ao investimento (tipo PAC) não garantem estabilidade fiscal e muito menos crescimento sustentável.

Inflação

Ao longo de 2021, o IPCA voltou a se acelerar, atingindo 10,7%, fortemente influenciado pela alta dos preços dos alimentos e dos transportes. Em 2022, a inflação mensal apresentou três deflações nos meses de julho (-0,68%), a maior da série histórica iniciada em 1980, agosto (-0,36%) e setembro (-0,29%). Nota-se que a desaceleração inflacionária, a partir de julho de 2022, está ligada à queda dos preços dos combustíveis devido à imposição do teto do ICMS. Em 2023, com a desaceleração dos subgrupos transportes e alimentação, a inflação (12 meses) decaiu, contudo, voltando a subir em julho corrente.

Taxa de variação do IPCA e seus subgrupos, acumulada 12 meses
  Meses IPCA Transporte Alimentação Habitação Saúde Educação Comunicação
25 2022-01-01 10.38 20.42 8.03 14.45 3.74 2.95 2.43
26 2022-02-01 10.54 18.27 9.12 14.61 3.58 6.09 2.86
27 2022-03-01 11.30 17.37 11.61 15.00 4.51 6.81 2.88
28 2022-04-01 12.13 19.71 13.46 13.44 5.11 6.83 2.88
29 2022-05-01 11.73 19.93 13.50 9.56 5.37 6.81 3.41
30 2022-06-01 11.89 20.13 13.92 8.81 6.14 6.85 3.70
31 2022-07-01 10.07 12.99 14.72 4.43 7.36 6.72 3.64
32 2022-08-01 8.73 7.61 13.41 3.83 8.81 7.07 2.27
33 2022-09-01 7.17 3.60 11.70 1.85 9.00 7.21 0.07
34 2022-10-01 6.47 1.54 11.20 1.14 9.84 7.34 -0.94
35 2022-11-01 5.90 -0.94 11.83 0.62 10.49 7.34 -1.17
36 2022-12-01 5.78 -1.30 11.63 0.08 11.42 7.49 -1.01
37 2023-01-01 5.77 -0.65 11.06 0.25 11.20 7.61 0.00
38 2023-02-01 5.60 -0.74 9.83 0.53 12.07 8.29 0.69
39 2023-03-01 4.65 -1.62 7.29 -0.05 12.01 8.24 1.25
40 2023-04-01 4.18 -2.92 5.87 1.59 11.70 8.27 1.25
41 2023-05-01 3.94 -4.75 5.53 4.04 11.61 8.28 0.73
42 2023-06-01 3.16 -5.68 4.01 4.33 10.37 8.25 0.43
43 2023-07-01 3.99 0.26 2.20 4.37 10.11 8.33 0.36

A variação mensal dos subgrupos do IPCA também é demonstrada a seguir.

Desemprego

O Gráfico e a Tabela a abaixo demonstram a evolução da taxa de desemprego e outros indicadores relevantes do mercado de trabalho. A taxa de desocupação vem decaindo continuamente conforme indica a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc) do IBGE. Segundo o IBGE, a taxa de desocupação, que mede o desemprego, segue em queda e atingiu 7,9% no trimestre encerrado em julho, sendo a menor desde 2014. Verifica-se que o número de pessoas ocupadas cresceu, chegando a 99,3 milhões em julho, representando um aumento de 1,3% em relação ao mês de abril (trim.fev-abr.), ou um incremento de 1,3 milhão de pessoas.

Alguns indicadores relevantes do mercado de trabalho extraídos da PNADc podem ser visto abaixo.

Indicadores do mercado do trabalho PNADC - Brasil
  PEA Pop. ocupada Pop. desocupada Massa nominal Massa real Renda Nominal Renda real
2022-01-01 107.476 95.428 12.048 232.594 253.258 2.489 2.711
2022-02-01 107.249 95.234 12.016 234.104 252.984 2.511 2.714
2022-03-01 107.224 95.275 11.949 237.673 254.150 2.548 2.725
2022-04-01 107.861 96.512 11.349 242.948 256.627 2.569 2.714
2022-05-01 108.147 97.516 10.631 249.849 261.194 2.613 2.732
2022-06-01 108.349 98.269 10.080 255.707 265.394 2.652 2.753
2022-07-01 108.548 98.666 9.882 260.699 270.211 2.693 2.792
2022-08-01 108.706 99.013 9.694 263.549 273.532 2.713 2.815
2022-09-01 108.729 99.269 9.460 266.731 278.104 2.737 2.853
2022-10-01 108.684 99.661 9.022 269.497 281.042 2.754 2.872
2022-11-01 108.434 99.693 8.741 272.998 284.028 2.787 2.899
2022-12-01 107.942 99.370 8.572 274.346 283.898 2.808 2.906
2023-01-01 107.631 98.636 8.995 275.134 283.266 2.835 2.919
2023-02-01 107.346 98.122 9.224 275.457 281.736 2.853 2.918
2023-03-01 107.257 97.825 9.432 277.194 281.575 2.880 2.925
2023-04-01 107.127 98.031 9.095 278.821 281.204 2.891 2.916
2023-05-01 107.345 98.400 8.945 280.914 281.860 2.901 2.911
2023-06-01 107.557 98.910 8.647 284.148 284.395 2.921 2.924
2023-07-01 107.856 99.334 8.522 286.872 286.872 2.935 2.935

Produção industrial

Segundo a Pesquisa Industrial Mensal (PIM), a produção industrial do país cresceu 0,1% na passagem de maio para junho, marcando a segunda taxa positiva consecutiva. Em maio, a indústria já havia avançado 0,2%. Na comparação com junho de 2022, o avanço é de 0,2%. No acumulado nos últimos 12 meses foi de acréscimo de apenas 0,1%. Os dados indicam um lenta recuperação e um quadro incerteza na cadeia produtiva industrial.

Produção física industrial do Brasil - Indústria geral com ajuste sazonal (em %)
date Indice Mês_imed_anterior Mesmo_mês_ano_anterior Var_12_meses
2022-01-01 100.2 0.0 -5.5 3.3
2022-02-01 100.9 0.6 -3.2 2.8
2022-03-01 100.2 -0.7 -1.5 2.0
2022-04-01 100.7 0.5 0.7 0.0
2022-05-01 100.3 -0.4 -1.0 -1.7
2022-06-01 100.2 -0.1 -0.7 -2.7
2022-07-01 100.9 0.7 1.8 -2.7
2022-08-01 99.7 -1.1 0.3 -2.6
2022-09-01 98.4 -1.3 -0.7 -2.3
2022-10-01 99.7 1.3 1.1 -1.7
2022-11-01 99.9 0.2 1.3 -1.0
2022-12-01 99.9 0.0 -0.3 -0.7
2023-01-01 99.6 -0.3 -0.6 -0.2
2023-02-01 99.4 -0.2 -1.4 -0.1
2023-03-01 100.6 1.1 0.4 0.1
2023-04-01 100.0 -0.6 -0.7 0.0
2023-05-01 100.3 0.3 0.0 0.0
2023-06-01 100.4 0.1 0.2 0.1

Comparação entre os índices de produção industrial, comércio varejista e serviços

O Gráfico, a seguir, faz a sobreposição dos índices da produção industrial, comércio varejista e serviços, com dados dessazonalizados, conforme pesquisas mensais do IBGE (PIM, PMC e PMS). Em junho, o caso do comércio varejista, o índice acumulado dos últimos 12 meses marcou seu nono mês consecutivo no campo positivo, chegando ao percentual de 0,9%. No caso dos serviços, o índice volume do setor acumula uma alta de 6,2% nos últimos 12 meses, estando positivo desde julho/21.

Resultado do Tesouro Nacional (acima da linha)

Coerente com suas concepções, o atual governo abandonou a disciplina fiscal e vem atacando sistematicamente a política monetária do Banco Central num quadro em que as despesas primárias reais vêm crescendo acima da arrecadação. Há uma busca contínua pela elevação da carga tributária para cumprir a meta de zerar o déficit primário em 2024. Nos sete primeiros meses de 2023, a receita líquida apresentou uma queda real significativa de R$ -61,5 bilhões, ante uma elevação das despesas primárias de R$ 94,3 bilhões, puxada pelo Bolsa Família.

No período, o resultado primário foi negativo em R$ 78,2 bilhões (valores nominais). A previsão é de R$ -145 bilhões em 2023, já sendo sinalizado um novo resultado negativo em 2024 (entre 0,5% e 0,75% do PIB), segundo fontes do próprio governo (Estadão 29/09/23).

Resultados primários por nível governamental (abaixo da linha)

Em 2020, o resultado nominal atingiu a 13,3% do PIB decorrente da forte enorme do déficit primário para 9,2% do PIB. Os juros nominais custaram 4,1% do PIB, sendo 3,5% do Governo Central. Os juros nominais tiveram uma trajetória de profunda redução entre 2018 e março de 2021. A menor despesa com juros incidentes sobre a dívida pública foi o fato positivo dos resultados fiscais divulgados em 2020.

Coube ao Governo Central arcar com a maioria dos gastos decorrentes da Covid-19 no biênio 2020-21. O Governo Central elevou seu endividamento bruto com a emissão de títulos federais, financiando as políticas sociais e atenuando os efeitos adversos da pandemia. Paralelo à enorme elevação do déficit da União em 2020, os governos subnacionais apresentaram resultados positivos, aumentando as receitas fiscais pela incidência da inflação na atividade econômica, somada à injeção financeira distribuída pelo governo federal para o combate à pandemia.

Em 2021, ocorreu o inédito superávit primário do setor público consolidado, algo que não acontecia desde 2013, atingindo 0,7% do PIB. Em valores nominais, o Governo Central reduziu sua situação deficitária de R$ 745,2 bilhões em 2020 para 35,8 bilhões em 2021. Fundamental para essa significativa melhoria do resultado primário, medido pelo PIB, foi a elevação das receitas primárias devido à inflação e à redução de gastos decorrentes da pandemia da Covid-19.Em 2022, o superávit primário consolidado também foi relevante, alcançando 1,3% do PIB. Nos doze meses encerrados em julho de 2023, o setor público consolidado registrou déficit de R$ 80,5 bilhões.

Também se observou a melhoria da situação fiscal dos governos subnacionais até 2022. Tais governos, além de apresentarem superávits primários desde 2020, também registraram resultados nominais positivos em 2021 e 2022. Em 2022, o superávit primário dos governos regionais alcançou 0,7% do PIB. Os fatores determinantes para a melhoria fiscal desses governos foram os seguintes: (i) o expressivo apoio financeiro concedido pelo Governo Federal durante a pandemia; (ii) o congelamento das despesas com pessoal no biênio 2020-21 e a suspensão de parcelas da dívida refinanciada com a União, fruto da Lei Complementar n.º 173/2020, de 20/05/20; e (iii) a expansão inflacionária entre os meados de 2019 e ao longo de 2021. Até junho de 2023, houve uma queda da poupança primária dos governos regionais devido à elevação dos gastos com pessoal e à redução real da receita tributária.

Necessidades de Financiamento dos entes governamentais (12 meses), em R$ milhões
  PRIMÁRIO CONSOLIDADO PRIMÁRIO GOV.CENTRAL PRIMÁRIO REGIONAIS JUROS CONSOLIDADO JUROS GOV.CENTRAL JUROS REGIONAIS NOMINAL CONSOLIDADO NOMINAL GOV. CENTRAL NOMINAL REGIONAIS
Dec 2014 32.536 20.472 7.790 311.380 251.070 56.905 343.916 271.542 64.695
Dec 2015 111.249 116.656 -9.684 501.786 397.240 98.775 613.035 513.896 89.090
Dec 2016 155.791 159.473 -4.666 407.024 318.362 83.055 562.815 477.836 78.389
Dec 2017 110.583 118.442 -7.498 400.826 340.907 54.312 511.408 459.350 46.815
Dec 2018 108.258 116.167 -3.492 379.184 310.307 62.881 487.442 426.474 59.389
Dec 2019 61.872 88.899 -15.196 367.282 310.115 51.189 429.154 399.014 35.993
Dec 2020 702.950 745.266 -38.748 312.427 266.657 39.799 1.015.377 1.011.923 1.050
Dec 2021 -64.727 35.872 -97.694 448.391 407.282 35.939 383.664 443.154 -61.755
Dec 2022 -125.994 -54.947 -64.924 586.427 503.234 78.567 460.433 448.288 13.643
Jul 2023 80.520 93.586 -13.721 641.277 543.141 92.785 721.797 636.728 79.064
Necessidades de Financiamento dos entes governamentais (12 meses), em % PIB
  PRIMÁRIO CONSOLIDADO PRIMÁRIO GOV.CENTRAL PRIMÁRIO REGIONAIS JUROS CONSOLIDADO JUROS GOV.CENTRAL JUROS REGIONAIS NOMINAL CONSOLIDADO NOMINAL GOV. CENTRAL NOMINAL REGIONAIS
Dec 2014 0,6 0,3 0,1 5,4 4,3 1,0 6,0 4,7 1,1
Dec 2015 1,9 2,0 -0,2 8,4 6,6 1,6 10,2 8,6 1,5
Dec 2016 2,5 2,5 -0,1 6,5 5,1 1,3 9,0 7,6 1,2
Dec 2017 1,7 1,8 -0,1 6,1 5,2 0,8 7,8 7,0 0,7
Dec 2018 1,6 1,7 0,0 5,4 4,4 0,9 7,0 6,1 0,8
Dec 2019 0,8 1,2 -0,2 5,0 4,2 0,7 5,8 5,4 0,5
Dec 2020 9,2 9,8 -0,5 4,1 3,5 0,5 13,3 13,3 0,0
Dec 2021 -0,7 0,4 -1,1 5,0 4,6 0,4 4,3 5,0 -0,7
Dec 2022 -1,3 -0,6 -0,7 5,9 5,1 0,8 4,6 4,5 0,1
Jul 2023 0,8 0,9 -0,1 6,2 5,2 0,9 7,0 6,1 0,8

Dívida líquida do setor público e demais entes governamentais

O crescimento da dívida líquida do setor público é decorrente da acumulação de juros nominais e da taxa Selic elevada, bem como de déficits primários acumulados pelo Governo Central. As variações dos ativos cambiais ajudam a atenuar o montante de sua expansão. A partir de 2014, sua evolução tem sido ascendente. Em julho de 2023, atingiu a 59,6% do PIB, crescendo comparativamente ao final de 2022.

Dívida líquida, por nível governamental, e dívida bruta, em R$ milhões
  DLSP GOV.CENTRAL ESTADOS MUNICÍPIOS DÍVIDA BRUTA
Dec 2006 1.120.053 735.800 316.864 47.073 1.336.645
Dec 2007 1.211.762 816.681 324.107 49.216 1.542.852
Dec 2008 1.168.238 728.327 359.575 55.379 1.740.888
Dec 2009 1.362.711 932.535 350.339 56.066 1.973.424
Dec 2010 1.475.820 1.001.117 387.503 63.264 2.011.522
Dec 2011 1.508.547 1.009.192 404.621 69.724 2.243.604
Dec 2012 1.550.083 1.002.205 441.100 78.323 2.583.946
Dec 2013 1.626.335 1.025.358 483.257 86.536 2.747.997
Dec 2014 1.883.147 1.200.680 551.199 91.866 3.252.449
Dec 2015 2.136.888 1.312.962 660.099 111.535 3.927.523
Dec 2016 2.892.913 2.090.133 686.023 61.480 4.378.486
Dec 2017 3.382.942 2.534.119 724.080 65.324 4.854.679
Dec 2018 3.695.837 2.763.702 798.185 72.950 5.271.982
Dec 2019 4.041.769 3.078.019 829.425 78.506 5.500.104
Dec 2020 4.670.004 3.651.460 868.303 86.182 6.615.755
Dec 2021 4.966.921 4.029.713 809.986 70.504 6.966.925
Dec 2022 5.658.017 4.738.380 819.931 44.810 7.224.882
Jul 2023 6.186.177 5.256.528 823.861 45.066 7.685.543
Dívida líquida, por nível governamental, e dívida bruta, em % PIB
  DLSP GOV.CENTRAL ESTADOS MUNICÍPIOS DÍVIDA BRUTA
Dec 2006 46,5 30,5 13,2 2,0 55,5
Dec 2007 44,5 30,0 11,9 1,8 56,7
Dec 2008 37,6 23,4 11,6 1,8 56,0
Dec 2009 40,9 28,0 10,5 1,7 59,2
Dec 2010 38,0 25,8 10,0 1,6 51,8
Dec 2011 34,5 23,1 9,2 1,6 51,3
Dec 2012 32,2 20,8 9,2 1,6 53,7
Dec 2013 30,5 19,2 9,1 1,6 51,5
Dec 2014 32,6 20,8 9,5 1,6 56,3
Dec 2015 35,6 21,9 11,0 1,9 65,5
Dec 2016 46,1 33,3 10,9 1,0 69,8
Dec 2017 51,4 38,5 11,0 1,0 73,7
Dec 2018 52,8 39,5 11,4 1,0 75,3
Dec 2019 54,7 41,7 11,2 1,1 74,4
Dec 2020 61,4 48,0 11,4 1,1 86,9
Dec 2021 55,8 45,3 9,1 0,8 78,3
Dec 2022 57,1 47,8 8,3 0,4 72,9
Jul 2023 59,6 50,7 7,9 0,4 74,1

Dívida bruta do governo geral

A política monetária no Brasil é caracterizada por manter o juro básico da economia — a taxa Selic — em patamar elevado durante décadas, contribuindo para a elevação da dívida bruta devido à incorporação crescente de juros nominais. Desde a implantação do Plano Real, ela oscilou, em termos nominais, de 53,1% ao ano em 1995 até uma taxa histórica de 2% ao ano no período agosto/20 a março/21, voltando a se elevar até o patamar de 13,75%.

Observando-se o Gráfico abaixo, percebe-se que a dívida bruta consolidada pulou de 51,5% do PIB em 2013 para 56,3% do PIB em 2014. Ao final de 2016, ainda atingiria 69,8% do PIB, crescendo até chegar em 88,9% em 2020. Entre os anos de 2021 e 2022, a dívida bruta vinha sendo reduzida, voltando a subir em 2023 (74,1% do PIB em julho).

Fazendo-se um balanço dos últimos 17 anos (2006–22), as estatísticas do Banco Central revelam que a dívida bruta saltou de R$ 1,3 trilhão em 2006 (55,5% do PIB) para R$ 7,2 trilhões (72,9%) em 2022. Em termos de percentual do PIB, houve um recuo no biênio 2020-21, indicando que havia uma orientação da política fiscal em conter essa expansão.

No período 2006-22, os fatores que condicionaram à sua expansão são: a incorporação de juros nominais (5,7 trilhões); o reconhecimento de dívidas e/ou privatizações (66 bilhões); e a política cambial de compra de reservas internacionais (221 bilhões). De outro lado, os resgates líquidos de títulos mobiliários (R$ 71 bilhões) ajudaram a contrair a dívida bruta.

A incorporação de juros nominais é responsável por 96% da expansão da dívida bruta. Esses juros alcançam uma média de 6,1% do PIB, com uma estimativa de custo médio na ordem de 10,6% ao ano, expressa em uma Selic nominal de 9,5% ao ano para o período em questão.

Contas externas (US$ milhões)

O resultado das transações correntes ficou negativo em 2021, totalizando US$ 46.4 bilhões. A última vez em que o resultado ficou positivo ocorreu no boom global das commodities, quando o Brasil obteve superávits por quatro anos consecutivos entre 2003 e 2006. Em 2022, as exportações e importações atingiram os maiores valores da série histórica. Note-se que a acumulação de Reservas Internacionais, que ajudaram a elevar a dívida bruta do Governo Central, apresenta uma queda em 2022 (US$ 324.7 bilhões) comparativamente ao alcançado em dezembro de 2021.

Contas externas do Brasil (valores anuais) - US$ millions
  Exportações Importações Balança Comercial Transações Correntes Reservas Internacionais
2002-12-01 59,941.2 48,274.6 12,003.7 -9,407.0 37,823
2003-12-01 72,648.0 49,307.1 23,576.1 2,193.3 49,296
2004-12-01 95,919.3 63,813.5 32,283.7 8,959.3 52,935
2005-12-01 118,233.8 74,691.9 43,721.5 11,679.4 53,799
2006-12-01 137,049.6 92,530.8 45,177.9 10,774.0 85,839
2007-12-01 159,731.2 122,041.6 38,498.2 -2,753.8 180,334
2008-12-01 196,746.3 174,706.4 23,506.8 -35,601.7 193,783
2009-12-01 151,510.0 128,734.0 24,790.2 -29,328.3 238,520
2010-12-01 199,298.4 182,837.1 18,357.9 -86,717.8 288,575
2011-12-01 252,996.8 227,873.9 27,525.1 -83,576.2 352,012
2012-12-01 239,226.5 225,070.1 16,908.5 -92,678.3 373,147
2013-12-01 238,748.0 241,137.9 368.9 -88,384.2 358,808
2014-12-01 221,557.8 230,706.0 -6,739.2 -110,493.5 363,551
2015-12-01 187,487.6 172,465.8 17,444.9 -63,408.8 356,464
2016-12-01 181,262.8 139,719.6 44,543.6 -30,529.3 365,016
2017-12-01 215,097.5 160,671.4 57,325.0 -25,337.5 373,972
2018-12-01 236,620.1 196,141.6 43,372.7 -54,794.1 374,715
2019-12-01 222,102.4 199,242.3 26,546.7 -68,021.5 356,884
2020-12-01 205,779.1 178,333.3 32,369.4 -28,207.6 355,620
2021-12-01 278,656.7 247,643.7 36,363.4 -46,357.9 362,204
2022-12-01 335,333.7 296,170.5 44,153.4 -53,619.5 324,703
2023-07-01 195,387.9 152,932.0 44,627.2 -18,173.8 345,476

Investimento direto no País (US$ milhões)

Em 2021, o ingresso líquido em Investimento Direto no País (IDP) somou US$ 46.4 bilhões, aumentando 23% em relação a 2020 (37.8 bilhões), ajudando a cobrir o saldo negativo em transações correntes. Em 2022, o ingresso foi mais significativo em relação a 2021, atingindo US$ 87.2 bilhões de dólares. A situação em 2023 apresenta uma redução relevante do investimento direto devido às incertezas oriundas da política fiscal do atual governo .

 
  Participação capital total Operações intercompanhia Investimento Direto País
2000-12-01 30,016.3 2,978.4 32,994.7
2001-12-01 18,764.9 4,461.0 23,225.9
2002-12-01 17,118.2 -531.5 16,586.7
2003-12-01 9,320.1 802.8 10,122.9
2004-12-01 18,570.3 -408.8 18,161.5
2005-12-01 15,045.0 415.0 15,460.0
2006-12-01 15,372.7 4,045.4 19,418.1
2007-12-01 26,074.3 18,505.0 44,579.3
2008-12-01 30,063.8 20,652.5 50,716.3
2009-12-01 19,906.6 11,574.6 31,481.2
2010-12-01 68,919.7 13,470.4 82,390.1
2011-12-01 85,976.3 16,450.7 102,427.0
2012-12-01 70,027.5 22,540.9 92,568.4
2013-12-01 36,864.9 38,346.3 75,211.2
2014-12-01 48,674.2 39,039.9 87,714.1
2015-12-01 41,887.6 22,850.6 64,738.2
2016-12-01 48,854.2 25,440.6 74,294.8
2017-12-01 63,999.4 4,886.3 68,885.7
2018-12-01 57,322.4 20,840.2 78,162.6
2019-12-01 63,631.3 5,543.1 69,174.4
2020-12-01 33,576.9 4,209.3 37,786.2
2021-12-01 46,885.5 -446.2 46,439.3
2022-12-01 70,426.8 16,817.8 87,244.6
2023-07-01 30,635.8 2,973.4 33,609.2

Em 2023, há uma queda acentuada do investimento direto no País acumulado em 12 meses.

Fluxo do câmbio contratado (US$ milhões)

O fluxo cambial reflete os resultados das áreas financeira (investimentos de estrangeiros, aportes em ações da Bolsa ou demais ativos) e da comercial (exportação menos importações).

Enquanto 2020, houve a saída líquida de US$ 27.9 bilhões pelo câmbio contratado, explicado pela forte desvalorização do real ocorrida em 2020. O País registrou saída líquida de dólares de US$ 51.1 bilhões pela via financeira, a qual foi compensada pela entrada de US$ 23.2 bilhões do lado comercial, incentivada pela maior demanda global por commodities. Esta foi segunda maior saída de recursos pelo canal financeiro, ante US$ 62.2 bilhões em 2019.

Em 2021, incentivado pelo câmbio favorável, o saldo comercial acumulado do ano atingiu US$ 9.8 bilhões, enquanto a saída líquida foi estancada. Disso resulta um fluxo cambial positivo de US$ 4.4 bilhões no período, revertendo o quadro negativo verificado desde 2012. Pela série histórica do Banco Central, iniciada em 1982, desde 2012 o País não registrava uma entrada líquida mais significativa de investimentos estrangeiros. Em oito anos, de 2013 a 2020, os estrangeiros retiraram US$ 318.9 bilhões líquidos do Brasil.

Em 2022, o resultado líquido foi negativo em US$ -3.2 bilhões, com a revisão do dado pelo Banco Central. Até julho de 2023, registra-se um bom desempenho da conta comercial, havendo uma entrada líquida do câmbio contratado de US$ 17.5 bilhões.

Câmbio Contratado (US$ milhões)
  Fluxo comercial Fluxo Financeiro Câmbio Contratado
1982-12-01 2,211.00 -9,754.00 -7,543.00
1983-12-01 6,638.00 -12,522.00 -5,884.00
1984-12-01 11,113.00 -12,165.00 -1,052.00
1985-12-01 13,192.00 -12,051.00 1,141.00
1986-12-01 10,298.00 -14,752.00 -4,454.00
1987-12-01 13,355.00 -9,244.00 4,111.00
1988-12-01 19,106.00 -12,943.00 6,163.00
1989-12-01 16,742.00 -14,583.00 2,159.00
1990-12-01 13,869.00 -10,548.00 3,321.00
1991-12-01 14,749.00 -7,815.00 6,934.00
1992-12-01 20,738.00 32.75 20,770.75
1993-12-01 15,964.00 2,508.00 18,472.00
1994-12-01 16,728.00 1,077.00 17,805.00
1995-12-01 11,596.00 4,204.00 15,800.00
1996-12-01 8,731.00 15,096.00 23,827.00
1997-12-01 -2,658.14 17,010.55 14,352.40
1998-12-01 3,832.62 6,469.21 10,301.83
1999-12-01 8,736.47 -14,717.23 -5,980.76
2000-12-01 5,629.28 6,318.80 11,948.07
2001-12-01 10,788.80 -7,640.25 3,148.55
2002-12-01 20,327.08 -24,209.23 -3,882.15
2003-12-01 28,355.25 -25,976.21 2,379.04
2004-12-01 36,671.94 -24,747.27 11,924.67
2005-12-01 51,772.38 -32,461.98 19,310.40
2006-12-01 57,598.47 -20,328.40 37,270.07
2007-12-01 76,745.52 10,708.08 87,453.60
2008-12-01 47,900.34 -48,883.46 -983.12
2009-12-01 9,924.20 18,807.59 28,731.79
2010-12-01 -1,650.20 26,004.06 24,353.86
2011-12-01 43,949.86 21,328.69 65,278.55
2012-12-01 8,373.35 8,379.83 16,753.18
2013-12-01 11,135.59 -23,396.30 -12,260.71
2014-12-01 4,137.40 -13,424.29 -9,286.89
2015-12-01 25,485.74 -16,071.37 9,414.37
2016-12-01 47,309.28 -51,561.64 -4,252.36
2017-12-01 52,924.43 -52,299.37 625.06
2018-12-01 47,740.06 -48,734.91 -994.85
2019-12-01 17,475.43 -62,243.82 -44,768.39
2020-12-01 23,250.45 -51,173.22 -27,922.77
2021-12-01 8,091.75 -3,668.53 4,423.21
2022-12-01 21,481.04 -24,713.66 -3,232.62
2023-07-01 33,733.97 -16,204.06 17,529.91

Fatores condicionantes da base monetária (R$ bilhões)

Diferentemente do que se observou por décadas no Brasil, a política monetária executada, no período 2019-22, teve o grande mérito de reduzir a taxa de juro real e Selic nominal (até 2% ao ano até março de 2021), evidenciando ganhos relevantes com a redução dos juros nominais. A taxa Selic começou a se elevar a partir de março de 2021, quando a inflação já dava sinais de elevação. Com juros reais negativos, havia a pressão do mercado financeiro pela elevação da taxa básica de juros ao final de 2020.

A manutenção da taxa Selic baixa ficou mais difícil devido à aceleração inflacionária, causada pelo câmbio e pela paralisia econômica que afetou as diversas cadeias produtivas ao longo de 2020. Houve uma enorme pressão para o retorno dos juros reais positivos, indicando que o mercado financeiro depende de uma curva de juros elevada.

Os fatores condicionantes da base monetária referem-se aos fluxos acumulados de políticas fiscais e monetárias que afetam a liquidez na economia num dado período considerado. Em 2018, a base monetária era 302,0 bilhões e saltou para 431,5 bilhões ao final de 2020 devido aos impulsos fiscais e monetários expansionistas, necessários ao combate da pandemia da Covid-19 e a manutenção da renda e do emprego na economia.

A partir de março de 2021, seguiu-se a elevação da taxa de Selic (de 2% até 13,75%) e a contração monetária nos dois anos seguintes, atingindo 419,6 bilhões em 2022. No período acumulado 2019-22, os fatores de expansão da base monetária foram a conta do Tesouro Nacional com os estímulos fiscais (381,0 bilhões) e as linhas temporárias de liquidez (23,5 bilhões). As operações com títulos federais resultaram em contração, havendo colocações líquidas de R$ 251,5 bilhões no mercado primário (Tesouro) e compras líquidas de 468,5 bilhões no secundário (BACEN), resultando em uma movimentação líquida de R$ 216,9 bilhões em títulos. Ainda no sentido contracionista, destacam-se as operações do mercado externo (-352,2 bilhões) e outras contas (-136,6 bilhões).

Portanto, a rápida e forte elevação da taxa Selic e a contração da oferta monetária efetivada pelo Banco Central foram relevantes para a conter a expansão inflacionária verificada em 2021-22. Tal expansão foi decorrente da queda abrupta da economia em 2020 e da consequente desarticulação das cadeias produtivas, além dos impulsos fiscais e monetários realizados pelo Tesouro Nacional e Banco Central que afetaram a base monetária.

 
  Saldo Base Monetária Conta Única Mercado Secundário Mercado Primário Op. Setor Externo Redesconto Linhas de Liquidez Depósitos IF Oper. derivativos Outras Operações
2014-12-01 263.53 -0.67 NA NA 16.27 0.00 NA 56.16 17.33 1.23
2015-12-01 255.29 59.67 -0.54 -123.48 -15.04 0.00 NA -24.74 89.66 6.23
2016-12-01 270.29 12.28 0.37 31.90 32.53 0.00 NA 6.05 -75.56 7.42
2017-12-01 296.76 52.13 84.38 -111.17 1.40 0.00 NA 0.87 -7.03 5.90
2018-12-01 302.05 -44.49 2.39 32.70 -17.35 0.01 NA 13.99 15.13 2.91
2019-12-01 316.59 -89.30 243.05 -15.72 -141.17 -0.01 NA 16.69 7.64 -6.63
2020-12-01 431.54 704.19 -264.57 -365.46 -117.73 0.00 67.24 69.83 40.80 -19.34
2021-12-01 409.18 -81.29 303.98 -121.55 -36.63 0.04 -52.77 -26.06 22.32 -30.40
2022-10-01 398.58 -58.94 -88.59 305.84 -10.66 -0.05 27.05 -55.58 -78.89 -50.78
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