O retorno dos déficits: a política monetária resiste

 

 

 

 

 

 

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Alguns analistas sustentam que há um ambiente econômico favorável, resultado de uma significativa desaceleração das taxas de inflação e da expansão do PIB, conseguida de indicadores muito favoráveis no mercado de trabalho. Outros, ao contrário, mostram maior preocupação com o desequilíbrio fiscal nos próximos dois anos e com a reversão dos resultados primários obtidos na administração anterior.

Até agora, somente a política monetária tem mantido de consistência macroeconômica, sendo conservadora na redução da taxa básica da economia. A taxa Selic se mantém elevada dada as incertezas vigentes. Além disso, o teto de gastos, que limitava o crescimento da despesa primária ao IPCA, será substituído pelo novo arcabouço fiscal.

Esta nova regra fiscal vem sendo criticada por não garantir a estabilidade as contas públicas e por estar ancorada no necessário aumento da carga tributária. Define-se um teto de crescimento do gasto primário, limitando-o a 70% ou 50% da expansão real da receita primária, bem como se flexibiliza a variação real da despesa, definindo limites: um mínimo (0,6%) e um máximo (2,5%). Resta saber se a combinação das regras operacionais conseguirá conter o crescimento vegetativo dos gastos, quando o governo não demonstra apreço pela contenção fiscal. Lembrando a história recente, as regras de vinculação orçamentária, a valorização real do salário mínimo, os déficits primários sucessivos, o incentivo ao investimento (tipo PAC) não garantem estabilidade fiscal e muito menos crescimento sustentável.

Inflação

Ao longo de 2021, o IPCA voltou a se acelerar, atingindo 10,7%, fortemente influenciado pela alta dos preços dos alimentos e dos transportes. Em 2022, a inflação mensal apresentou três deflações nos meses de julho (-0,68%), a maior da série histórica iniciada em 1980, agosto (-0,36%) e setembro (-0,29%). Nota-se que a desaceleração inflacionária, a partir de julho de 2022, está ligada à queda dos preços dos combustíveis devido à imposição do teto do ICMS. Em 2023, com a desaceleração dos subgrupos transportes e alimentação, a inflação (12 meses) decaiu, contudo, voltando a subir em julho corrente.

Taxa de variação do IPCA e seus subgrupos, acumulada 12 meses
 MesesIPCATransporteAlimentaçãoHabitaçãoSaúdeEducaçãoComunicação
252022-01-0110.3820.428.0314.453.742.952.43
262022-02-0110.5418.279.1214.613.586.092.86
272022-03-0111.3017.3711.6115.004.516.812.88
282022-04-0112.1319.7113.4613.445.116.832.88
292022-05-0111.7319.9313.509.565.376.813.41
302022-06-0111.8920.1313.928.816.146.853.70
312022-07-0110.0712.9914.724.437.366.723.64
322022-08-018.737.6113.413.838.817.072.27
332022-09-017.173.6011.701.859.007.210.07
342022-10-016.471.5411.201.149.847.34-0.94
352022-11-015.90-0.9411.830.6210.497.34-1.17
362022-12-015.78-1.3011.630.0811.427.49-1.01
372023-01-015.77-0.6511.060.2511.207.610.00
382023-02-015.60-0.749.830.5312.078.290.69
392023-03-014.65-1.627.29-0.0512.018.241.25
402023-04-014.18-2.925.871.5911.708.271.25
412023-05-013.94-4.755.534.0411.618.280.73
422023-06-013.16-5.684.014.3310.378.250.43
432023-07-013.990.262.204.3710.118.330.36

A variação mensal dos subgrupos do IPCA também é demonstrada a seguir.

Desemprego

O Gráfico e a Tabela a abaixo demonstram a evolução da taxa de desemprego e outros indicadores relevantes do mercado de trabalho. A taxa de desocupação vem decaindo continuamente conforme indica a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc) do IBGE. Segundo o IBGE, a taxa de desocupação, que mede o desemprego, segue em queda e atingiu 7,9% no trimestre encerrado em julho, sendo a menor desde 2014. Verifica-se que o número de pessoas ocupadas cresceu, chegando a 99,3 milhões em julho, representando um aumento de 1,3% em relação ao mês de abril (trim.fev-abr.), ou um incremento de 1,3 milhão de pessoas.

Alguns indicadores relevantes do mercado de trabalho extraídos da PNADc podem ser visto abaixo.

Indicadores do mercado do trabalho PNADC - Brasil
 PEAPop. ocupadaPop. desocupadaMassa nominalMassa realRenda NominalRenda real
2022-01-01107.47695.42812.048232.594253.2582.4892.711
2022-02-01107.24995.23412.016234.104252.9842.5112.714
2022-03-01107.22495.27511.949237.673254.1502.5482.725
2022-04-01107.86196.51211.349242.948256.6272.5692.714
2022-05-01108.14797.51610.631249.849261.1942.6132.732
2022-06-01108.34998.26910.080255.707265.3942.6522.753
2022-07-01108.54898.6669.882260.699270.2112.6932.792
2022-08-01108.70699.0139.694263.549273.5322.7132.815
2022-09-01108.72999.2699.460266.731278.1042.7372.853
2022-10-01108.68499.6619.022269.497281.0422.7542.872
2022-11-01108.43499.6938.741272.998284.0282.7872.899
2022-12-01107.94299.3708.572274.346283.8982.8082.906
2023-01-01107.63198.6368.995275.134283.2662.8352.919
2023-02-01107.34698.1229.224275.457281.7362.8532.918
2023-03-01107.25797.8259.432277.194281.5752.8802.925
2023-04-01107.12798.0319.095278.821281.2042.8912.916
2023-05-01107.34598.4008.945280.914281.8602.9012.911
2023-06-01107.55798.9108.647284.148284.3952.9212.924
2023-07-01107.85699.3348.522286.872286.8722.9352.935

Produção industrial

Segundo a Pesquisa Industrial Mensal (PIM), a produção industrial do país cresceu 0,1% na passagem de maio para junho, marcando a segunda taxa positiva consecutiva. Em maio, a indústria já havia avançado 0,2%. Na comparação com junho de 2022, o avanço é de 0,2%. No acumulado nos últimos 12 meses foi de acréscimo de apenas 0,1%. Os dados indicam um lenta recuperação e um quadro incerteza na cadeia produtiva industrial.

Produção física industrial do Brasil - Indústria geral com ajuste sazonal (em %)
dateIndiceMês_imed_anteriorMesmo_mês_ano_anteriorVar_12_meses
2022-01-01100.20.0-5.53.3
2022-02-01100.90.6-3.22.8
2022-03-01100.2-0.7-1.52.0
2022-04-01100.70.50.70.0
2022-05-01100.3-0.4-1.0-1.7
2022-06-01100.2-0.1-0.7-2.7
2022-07-01100.90.71.8-2.7
2022-08-0199.7-1.10.3-2.6
2022-09-0198.4-1.3-0.7-2.3
2022-10-0199.71.31.1-1.7
2022-11-0199.90.21.3-1.0
2022-12-0199.90.0-0.3-0.7
2023-01-0199.6-0.3-0.6-0.2
2023-02-0199.4-0.2-1.4-0.1
2023-03-01100.61.10.40.1
2023-04-01100.0-0.6-0.70.0
2023-05-01100.30.30.00.0
2023-06-01100.40.10.20.1

Comparação entre os índices de produção industrial, comércio varejista e serviços

O Gráfico, a seguir, faz a sobreposição dos índices da produção industrial, comércio varejista e serviços, com dados dessazonalizados, conforme pesquisas mensais do IBGE (PIM, PMC e PMS). Em junho, o caso do comércio varejista, o índice acumulado dos últimos 12 meses marcou seu nono mês consecutivo no campo positivo, chegando ao percentual de 0,9%. No caso dos serviços, o índice volume do setor acumula uma alta de 6,2% nos últimos 12 meses, estando positivo desde julho/21.

Resultado do Tesouro Nacional (acima da linha)

Coerente com suas concepções, o atual governo abandonou a disciplina fiscal e vem atacando sistematicamente a política monetária do Banco Central num quadro em que as despesas primárias reais vêm crescendo acima da arrecadação. Há uma busca contínua pela elevação da carga tributária para cumprir a meta de zerar o déficit primário em 2024. Nos sete primeiros meses de 2023, a receita líquida apresentou uma queda real significativa de R$ -61,5 bilhões, ante uma elevação das despesas primárias de R$ 94,3 bilhões, puxada pelo Bolsa Família.

No período, o resultado primário foi negativo em R$ 78,2 bilhões (valores nominais). A previsão é de R$ -145 bilhões em 2023, já sendo sinalizado um novo resultado negativo em 2024 (entre 0,5% e 0,75% do PIB), segundo fontes do próprio governo (Estadão 29/09/23).

Resultados primários por nível governamental (abaixo da linha)

Em 2020, o resultado nominal atingiu a 13,3% do PIB decorrente da forte enorme do déficit primário para 9,2% do PIB. Os juros nominais custaram 4,1% do PIB, sendo 3,5% do Governo Central. Os juros nominais tiveram uma trajetória de profunda redução entre 2018 e março de 2021. A menor despesa com juros incidentes sobre a dívida pública foi o fato positivo dos resultados fiscais divulgados em 2020.

Coube ao Governo Central arcar com a maioria dos gastos decorrentes da Covid-19 no biênio 2020-21. O Governo Central elevou seu endividamento bruto com a emissão de títulos federais, financiando as políticas sociais e atenuando os efeitos adversos da pandemia. Paralelo à enorme elevação do déficit da União em 2020, os governos subnacionais apresentaram resultados positivos, aumentando as receitas fiscais pela incidência da inflação na atividade econômica, somada à injeção financeira distribuída pelo governo federal para o combate à pandemia.

Em 2021, ocorreu o inédito superávit primário do setor público consolidado, algo que não acontecia desde 2013, atingindo 0,7% do PIB. Em valores nominais, o Governo Central reduziu sua situação deficitária de R$ 745,2 bilhões em 2020 para 35,8 bilhões em 2021. Fundamental para essa significativa melhoria do resultado primário, medido pelo PIB, foi a elevação das receitas primárias devido à inflação e à redução de gastos decorrentes da pandemia da Covid-19.Em 2022, o superávit primário consolidado também foi relevante, alcançando 1,3% do PIB. Nos doze meses encerrados em julho de 2023, o setor público consolidado registrou déficit de R$ 80,5 bilhões.

Também se observou a melhoria da situação fiscal dos governos subnacionais até 2022. Tais governos, além de apresentarem superávits primários desde 2020, também registraram resultados nominais positivos em 2021 e 2022. Em 2022, o superávit primário dos governos regionais alcançou 0,7% do PIB. Os fatores determinantes para a melhoria fiscal desses governos foram os seguintes: (i) o expressivo apoio financeiro concedido pelo Governo Federal durante a pandemia; (ii) o congelamento das despesas com pessoal no biênio 2020-21 e a suspensão de parcelas da dívida refinanciada com a União, fruto da Lei Complementar n.º 173/2020, de 20/05/20; e (iii) a expansão inflacionária entre os meados de 2019 e ao longo de 2021. Até junho de 2023, houve uma queda da poupança primária dos governos regionais devido à elevação dos gastos com pessoal e à redução real da receita tributária.

Necessidades de Financiamento dos entes governamentais (12 meses), em R$ milhões
 PRIMÁRIO CONSOLIDADOPRIMÁRIO GOV.CENTRALPRIMÁRIO REGIONAISJUROS CONSOLIDADOJUROS GOV.CENTRALJUROS REGIONAISNOMINAL CONSOLIDADONOMINAL GOV. CENTRALNOMINAL REGIONAIS
Dec 201432.53620.4727.790311.380251.07056.905343.916271.54264.695
Dec 2015111.249116.656-9.684501.786397.24098.775613.035513.89689.090
Dec 2016155.791159.473-4.666407.024318.36283.055562.815477.83678.389
Dec 2017110.583118.442-7.498400.826340.90754.312511.408459.35046.815
Dec 2018108.258116.167-3.492379.184310.30762.881487.442426.47459.389
Dec 201961.87288.899-15.196367.282310.11551.189429.154399.01435.993
Dec 2020702.950745.266-38.748312.427266.65739.7991.015.3771.011.9231.050
Dec 2021-64.72735.872-97.694448.391407.28235.939383.664443.154-61.755
Dec 2022-125.994-54.947-64.924586.427503.23478.567460.433448.28813.643
Jul 202380.52093.586-13.721641.277543.14192.785721.797636.72879.064
Necessidades de Financiamento dos entes governamentais (12 meses), em % PIB
 PRIMÁRIO CONSOLIDADOPRIMÁRIO GOV.CENTRALPRIMÁRIO REGIONAISJUROS CONSOLIDADOJUROS GOV.CENTRALJUROS REGIONAISNOMINAL CONSOLIDADONOMINAL GOV. CENTRALNOMINAL REGIONAIS
Dec 20140,60,30,15,44,31,06,04,71,1
Dec 20151,92,0-0,28,46,61,610,28,61,5
Dec 20162,52,5-0,16,55,11,39,07,61,2
Dec 20171,71,8-0,16,15,20,87,87,00,7
Dec 20181,61,70,05,44,40,97,06,10,8
Dec 20190,81,2-0,25,04,20,75,85,40,5
Dec 20209,29,8-0,54,13,50,513,313,30,0
Dec 2021-0,70,4-1,15,04,60,44,35,0-0,7
Dec 2022-1,3-0,6-0,75,95,10,84,64,50,1
Jul 20230,80,9-0,16,25,20,97,06,10,8

Dívida líquida do setor público e demais entes governamentais

O crescimento da dívida líquida do setor público é decorrente da acumulação de juros nominais e da taxa Selic elevada, bem como de déficits primários acumulados pelo Governo Central. As variações dos ativos cambiais ajudam a atenuar o montante de sua expansão. A partir de 2014, sua evolução tem sido ascendente. Em julho de 2023, atingiu a 59,6% do PIB, crescendo comparativamente ao final de 2022.

Dívida líquida, por nível governamental, e dívida bruta, em R$ milhões
 DLSPGOV.CENTRALESTADOSMUNICÍPIOSDÍVIDA BRUTA
Dec 20061.120.053735.800316.86447.0731.336.645
Dec 20071.211.762816.681324.10749.2161.542.852
Dec 20081.168.238728.327359.57555.3791.740.888
Dec 20091.362.711932.535350.33956.0661.973.424
Dec 20101.475.8201.001.117387.50363.2642.011.522
Dec 20111.508.5471.009.192404.62169.7242.243.604
Dec 20121.550.0831.002.205441.10078.3232.583.946
Dec 20131.626.3351.025.358483.25786.5362.747.997
Dec 20141.883.1471.200.680551.19991.8663.252.449
Dec 20152.136.8881.312.962660.099111.5353.927.523
Dec 20162.892.9132.090.133686.02361.4804.378.486
Dec 20173.382.9422.534.119724.08065.3244.854.679
Dec 20183.695.8372.763.702798.18572.9505.271.982
Dec 20194.041.7693.078.019829.42578.5065.500.104
Dec 20204.670.0043.651.460868.30386.1826.615.755
Dec 20214.966.9214.029.713809.98670.5046.966.925
Dec 20225.658.0174.738.380819.93144.8107.224.882
Jul 20236.186.1775.256.528823.86145.0667.685.543
Dívida líquida, por nível governamental, e dívida bruta, em % PIB
 DLSPGOV.CENTRALESTADOSMUNICÍPIOSDÍVIDA BRUTA
Dec 200646,530,513,22,055,5
Dec 200744,530,011,91,856,7
Dec 200837,623,411,61,856,0
Dec 200940,928,010,51,759,2
Dec 201038,025,810,01,651,8
Dec 201134,523,19,21,651,3
Dec 201232,220,89,21,653,7
Dec 201330,519,29,11,651,5
Dec 201432,620,89,51,656,3
Dec 201535,621,911,01,965,5
Dec 201646,133,310,91,069,8
Dec 201751,438,511,01,073,7
Dec 201852,839,511,41,075,3
Dec 201954,741,711,21,174,4
Dec 202061,448,011,41,186,9
Dec 202155,845,39,10,878,3
Dec 202257,147,88,30,472,9
Jul 202359,650,77,90,474,1

Dívida bruta do governo geral

A política monetária no Brasil é caracterizada por manter o juro básico da economia — a taxa Selic — em patamar elevado durante décadas, contribuindo para a elevação da dívida bruta devido à incorporação crescente de juros nominais. Desde a implantação do Plano Real, ela oscilou, em termos nominais, de 53,1% ao ano em 1995 até uma taxa histórica de 2% ao ano no período agosto/20 a março/21, voltando a se elevar até o patamar de 13,75%.

Observando-se o Gráfico abaixo, percebe-se que a dívida bruta consolidada pulou de 51,5% do PIB em 2013 para 56,3% do PIB em 2014. Ao final de 2016, ainda atingiria 69,8% do PIB, crescendo até chegar em 88,9% em 2020. Entre os anos de 2021 e 2022, a dívida bruta vinha sendo reduzida, voltando a subir em 2023 (74,1% do PIB em julho).

Fazendo-se um balanço dos últimos 17 anos (2006–22), as estatísticas do Banco Central revelam que a dívida bruta saltou de R$ 1,3 trilhão em 2006 (55,5% do PIB) para R$ 7,2 trilhões (72,9%) em 2022. Em termos de percentual do PIB, houve um recuo no biênio 2020-21, indicando que havia uma orientação da política fiscal em conter essa expansão.

No período 2006-22, os fatores que condicionaram à sua expansão são: a incorporação de juros nominais (5,7 trilhões); o reconhecimento de dívidas e/ou privatizações (66 bilhões); e a política cambial de compra de reservas internacionais (221 bilhões). De outro lado, os resgates líquidos de títulos mobiliários (R$ 71 bilhões) ajudaram a contrair a dívida bruta.

A incorporação de juros nominais é responsável por 96% da expansão da dívida bruta. Esses juros alcançam uma média de 6,1% do PIB, com uma estimativa de custo médio na ordem de 10,6% ao ano, expressa em uma Selic nominal de 9,5% ao ano para o período em questão.

Contas externas (US$ milhões)

O resultado das transações correntes ficou negativo em 2021, totalizando US$ 46.4 bilhões. A última vez em que o resultado ficou positivo ocorreu no boom global das commodities, quando o Brasil obteve superávits por quatro anos consecutivos entre 2003 e 2006. Em 2022, as exportações e importações atingiram os maiores valores da série histórica. Note-se que a acumulação de Reservas Internacionais, que ajudaram a elevar a dívida bruta do Governo Central, apresenta uma queda em 2022 (US$ 324.7 bilhões) comparativamente ao alcançado em dezembro de 2021.

Contas externas do Brasil (valores anuais) - US$ millions
 ExportaçõesImportaçõesBalança ComercialTransações CorrentesReservas Internacionais
2002-12-0159,941.248,274.612,003.7-9,407.037,823
2003-12-0172,648.049,307.123,576.12,193.349,296
2004-12-0195,919.363,813.532,283.78,959.352,935
2005-12-01118,233.874,691.943,721.511,679.453,799
2006-12-01137,049.692,530.845,177.910,774.085,839
2007-12-01159,731.2122,041.638,498.2-2,753.8180,334
2008-12-01196,746.3174,706.423,506.8-35,601.7193,783
2009-12-01151,510.0128,734.024,790.2-29,328.3238,520
2010-12-01199,298.4182,837.118,357.9-86,717.8288,575
2011-12-01252,996.8227,873.927,525.1-83,576.2352,012
2012-12-01239,226.5225,070.116,908.5-92,678.3373,147
2013-12-01238,748.0241,137.9368.9-88,384.2358,808
2014-12-01221,557.8230,706.0-6,739.2-110,493.5363,551
2015-12-01187,487.6172,465.817,444.9-63,408.8356,464
2016-12-01181,262.8139,719.644,543.6-30,529.3365,016
2017-12-01215,097.5160,671.457,325.0-25,337.5373,972
2018-12-01236,620.1196,141.643,372.7-54,794.1374,715
2019-12-01222,102.4199,242.326,546.7-68,021.5356,884
2020-12-01205,779.1178,333.332,369.4-28,207.6355,620
2021-12-01278,656.7247,643.736,363.4-46,357.9362,204
2022-12-01335,333.7296,170.544,153.4-53,619.5324,703
2023-07-01195,387.9152,932.044,627.2-18,173.8345,476

Investimento direto no País (US$ milhões)

Em 2021, o ingresso líquido em Investimento Direto no País (IDP) somou US$ 46.4 bilhões, aumentando 23% em relação a 2020 (37.8 bilhões), ajudando a cobrir o saldo negativo em transações correntes. Em 2022, o ingresso foi mais significativo em relação a 2021, atingindo US$ 87.2 bilhões de dólares. A situação em 2023 apresenta uma redução relevante do investimento direto devido às incertezas oriundas da política fiscal do atual governo .

 
 Participação capital totalOperações intercompanhiaInvestimento Direto País
2000-12-0130,016.32,978.432,994.7
2001-12-0118,764.94,461.023,225.9
2002-12-0117,118.2-531.516,586.7
2003-12-019,320.1802.810,122.9
2004-12-0118,570.3-408.818,161.5
2005-12-0115,045.0415.015,460.0
2006-12-0115,372.74,045.419,418.1
2007-12-0126,074.318,505.044,579.3
2008-12-0130,063.820,652.550,716.3
2009-12-0119,906.611,574.631,481.2
2010-12-0168,919.713,470.482,390.1
2011-12-0185,976.316,450.7102,427.0
2012-12-0170,027.522,540.992,568.4
2013-12-0136,864.938,346.375,211.2
2014-12-0148,674.239,039.987,714.1
2015-12-0141,887.622,850.664,738.2
2016-12-0148,854.225,440.674,294.8
2017-12-0163,999.44,886.368,885.7
2018-12-0157,322.420,840.278,162.6
2019-12-0163,631.35,543.169,174.4
2020-12-0133,576.94,209.337,786.2
2021-12-0146,885.5-446.246,439.3
2022-12-0170,426.816,817.887,244.6
2023-07-0130,635.82,973.433,609.2

Em 2023, há uma queda acentuada do investimento direto no País acumulado em 12 meses.

Fluxo do câmbio contratado (US$ milhões)

O fluxo cambial reflete os resultados das áreas financeira (investimentos de estrangeiros, aportes em ações da Bolsa ou demais ativos) e da comercial (exportação menos importações).

Enquanto 2020, houve a saída líquida de US$ 27.9 bilhões pelo câmbio contratado, explicado pela forte desvalorização do real ocorrida em 2020. O País registrou saída líquida de dólares de US$ 51.1 bilhões pela via financeira, a qual foi compensada pela entrada de US$ 23.2 bilhões do lado comercial, incentivada pela maior demanda global por commodities. Esta foi segunda maior saída de recursos pelo canal financeiro, ante US$ 62.2 bilhões em 2019.

Em 2021, incentivado pelo câmbio favorável, o saldo comercial acumulado do ano atingiu US$ 9.8 bilhões, enquanto a saída líquida foi estancada. Disso resulta um fluxo cambial positivo de US$ 4.4 bilhões no período, revertendo o quadro negativo verificado desde 2012. Pela série histórica do Banco Central, iniciada em 1982, desde 2012 o País não registrava uma entrada líquida mais significativa de investimentos estrangeiros. Em oito anos, de 2013 a 2020, os estrangeiros retiraram US$ 318.9 bilhões líquidos do Brasil.

Em 2022, o resultado líquido foi negativo em US$ -3.2 bilhões, com a revisão do dado pelo Banco Central. Até julho de 2023, registra-se um bom desempenho da conta comercial, havendo uma entrada líquida do câmbio contratado de US$ 17.5 bilhões.

Câmbio Contratado (US$ milhões)
 Fluxo comercialFluxo FinanceiroCâmbio Contratado
1982-12-012,211.00-9,754.00-7,543.00
1983-12-016,638.00-12,522.00-5,884.00
1984-12-0111,113.00-12,165.00-1,052.00
1985-12-0113,192.00-12,051.001,141.00
1986-12-0110,298.00-14,752.00-4,454.00
1987-12-0113,355.00-9,244.004,111.00
1988-12-0119,106.00-12,943.006,163.00
1989-12-0116,742.00-14,583.002,159.00
1990-12-0113,869.00-10,548.003,321.00
1991-12-0114,749.00-7,815.006,934.00
1992-12-0120,738.0032.7520,770.75
1993-12-0115,964.002,508.0018,472.00
1994-12-0116,728.001,077.0017,805.00
1995-12-0111,596.004,204.0015,800.00
1996-12-018,731.0015,096.0023,827.00
1997-12-01-2,658.1417,010.5514,352.40
1998-12-013,832.626,469.2110,301.83
1999-12-018,736.47-14,717.23-5,980.76
2000-12-015,629.286,318.8011,948.07
2001-12-0110,788.80-7,640.253,148.55
2002-12-0120,327.08-24,209.23-3,882.15
2003-12-0128,355.25-25,976.212,379.04
2004-12-0136,671.94-24,747.2711,924.67
2005-12-0151,772.38-32,461.9819,310.40
2006-12-0157,598.47-20,328.4037,270.07
2007-12-0176,745.5210,708.0887,453.60
2008-12-0147,900.34-48,883.46-983.12
2009-12-019,924.2018,807.5928,731.79
2010-12-01-1,650.2026,004.0624,353.86
2011-12-0143,949.8621,328.6965,278.55
2012-12-018,373.358,379.8316,753.18
2013-12-0111,135.59-23,396.30-12,260.71
2014-12-014,137.40-13,424.29-9,286.89
2015-12-0125,485.74-16,071.379,414.37
2016-12-0147,309.28-51,561.64-4,252.36
2017-12-0152,924.43-52,299.37625.06
2018-12-0147,740.06-48,734.91-994.85
2019-12-0117,475.43-62,243.82-44,768.39
2020-12-0123,250.45-51,173.22-27,922.77
2021-12-018,091.75-3,668.534,423.21
2022-12-0121,481.04-24,713.66-3,232.62
2023-07-0133,733.97-16,204.0617,529.91

Fatores condicionantes da base monetária (R$ bilhões)

Diferentemente do que se observou por décadas no Brasil, a política monetária executada, no período 2019-22, teve o grande mérito de reduzir a taxa de juro real e Selic nominal (até 2% ao ano até março de 2021), evidenciando ganhos relevantes com a redução dos juros nominais. A taxa Selic começou a se elevar a partir de março de 2021, quando a inflação já dava sinais de elevação. Com juros reais negativos, havia a pressão do mercado financeiro pela elevação da taxa básica de juros ao final de 2020.

A manutenção da taxa Selic baixa ficou mais difícil devido à aceleração inflacionária, causada pelo câmbio e pela paralisia econômica que afetou as diversas cadeias produtivas ao longo de 2020. Houve uma enorme pressão para o retorno dos juros reais positivos, indicando que o mercado financeiro depende de uma curva de juros elevada.

Os fatores condicionantes da base monetária referem-se aos fluxos acumulados de políticas fiscais e monetárias que afetam a liquidez na economia num dado período considerado. Em 2018, a base monetária era 302,0 bilhões e saltou para 431,5 bilhões ao final de 2020 devido aos impulsos fiscais e monetários expansionistas, necessários ao combate da pandemia da Covid-19 e a manutenção da renda e do emprego na economia.

A partir de março de 2021, seguiu-se a elevação da taxa de Selic (de 2% até 13,75%) e a contração monetária nos dois anos seguintes, atingindo 419,6 bilhões em 2022. No período acumulado 2019-22, os fatores de expansão da base monetária foram a conta do Tesouro Nacional com os estímulos fiscais (381,0 bilhões) e as linhas temporárias de liquidez (23,5 bilhões). As operações com títulos federais resultaram em contração, havendo colocações líquidas de R$ 251,5 bilhões no mercado primário (Tesouro) e compras líquidas de 468,5 bilhões no secundário (BACEN), resultando em uma movimentação líquida de R$ 216,9 bilhões em títulos. Ainda no sentido contracionista, destacam-se as operações do mercado externo (-352,2 bilhões) e outras contas (-136,6 bilhões).

Portanto, a rápida e forte elevação da taxa Selic e a contração da oferta monetária efetivada pelo Banco Central foram relevantes para a conter a expansão inflacionária verificada em 2021-22. Tal expansão foi decorrente da queda abrupta da economia em 2020 e da consequente desarticulação das cadeias produtivas, além dos impulsos fiscais e monetários realizados pelo Tesouro Nacional e Banco Central que afetaram a base monetária.

 
 Saldo Base MonetáriaConta ÚnicaMercado SecundárioMercado PrimárioOp. Setor ExternoRedescontoLinhas de LiquidezDepósitos IFOper. derivativosOutras Operações
2014-12-01263.53-0.67NANA16.270.00NA56.1617.331.23
2015-12-01255.2959.67-0.54-123.48-15.040.00NA-24.7489.666.23
2016-12-01270.2912.280.3731.9032.530.00NA6.05-75.567.42
2017-12-01296.7652.1384.38-111.171.400.00NA0.87-7.035.90
2018-12-01302.05-44.492.3932.70-17.350.01NA13.9915.132.91
2019-12-01316.59-89.30243.05-15.72-141.17-0.01NA16.697.64-6.63
2020-12-01431.54704.19-264.57-365.46-117.730.0067.2469.8340.80-19.34
2021-12-01409.18-81.29303.98-121.55-36.630.04-52.77-26.0622.32-30.40
2022-10-01398.58-58.94-88.59305.84-10.66-0.0527.05-55.58-78.89-50.78
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