O retorno dos déficits: a política monetária resiste

 

 

 

 

 

 

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Alguns analistas sustentam que há um ambiente econômico favorável, resultado de uma significativa desaceleração das taxas de inflação e da expansão do PIB, conseguida de indicadores muito favoráveis no mercado de trabalho. Outros, ao contrário, mostram maior preocupação com o desequilíbrio fiscal nos próximos dois anos e com a reversão dos resultados primários obtidos na administração anterior.

Até agora, somente a política monetária tem mantido de consistência macroeconômica, sendo conservadora na redução da taxa básica da economia. A taxa Selic se mantém elevada dada as incertezas vigentes. Além disso, o teto de gastos, que limitava o crescimento da despesa primária ao IPCA, será substituído pelo novo arcabouço fiscal.

Esta nova regra fiscal vem sendo criticada por não garantir a estabilidade as contas públicas e por estar ancorada no necessário aumento da carga tributária. Define-se um teto de crescimento do gasto primário, limitando-o a 70% ou 50% da expansão real da receita primária, bem como se flexibiliza a variação real da despesa, definindo limites: um mínimo (0,6%) e um máximo (2,5%). Resta saber se a combinação das regras operacionais conseguirá conter o crescimento vegetativo dos gastos, quando o governo não demonstra apreço pela contenção fiscal. Lembrando a história recente, as regras de vinculação orçamentária, a valorização real do salário mínimo, os déficits primários sucessivos, o incentivo ao investimento (tipo PAC) não garantem estabilidade fiscal e muito menos crescimento sustentável.

Inflação

Ao longo de 2021, o IPCA voltou a se acelerar, atingindo 10,7%, fortemente influenciado pela alta dos preços dos alimentos e dos transportes. Em 2022, a inflação mensal apresentou três deflações nos meses de julho (-0,68%), a maior da série histórica iniciada em 1980, agosto (-0,36%) e setembro (-0,29%). Nota-se que a desaceleração inflacionária, a partir de julho de 2022, está ligada à queda dos preços dos combustíveis devido à imposição do teto do ICMS. Em 2023, com a desaceleração dos subgrupos transportes e alimentação, a inflação (12 meses) decaiu, contudo, voltando a subir em julho corrente.

Taxa de variação do IPCA e seus subgrupos, acumulada 12 meses
 MesesIPCATransporteAlimentaçãoHabitaçãoSaúdeEducaçãoComunicação
252022-01-0110.3820.428.0314.453.742.952.43
262022-02-0110.5418.279.1214.613.586.092.86
272022-03-0111.3017.3711.6115.004.516.812.88
282022-04-0112.1319.7113.4613.445.116.832.88
292022-05-0111.7319.9313.509.565.376.813.41
302022-06-0111.8920.1313.928.816.146.853.70
312022-07-0110.0712.9914.724.437.366.723.64
322022-08-018.737.6113.413.838.817.072.27
332022-09-017.173.6011.701.859.007.210.07
342022-10-016.471.5411.201.149.847.34-0.94
352022-11-015.90-0.9411.830.6210.497.34-1.17
362022-12-015.78-1.3011.630.0811.427.49-1.01
372023-01-015.77-0.6511.060.2511.207.610.00
382023-02-015.60-0.749.830.5312.078.290.69
392023-03-014.65-1.627.29-0.0512.018.241.25
402023-04-014.18-2.925.871.5911.708.271.25
412023-05-013.94-4.755.534.0411.618.280.73
422023-06-013.16-5.684.014.3310.378.250.43
432023-07-013.990.262.204.3710.118.330.36

A variação mensal dos subgrupos do IPCA também é demonstrada a seguir.

Desemprego

O Gráfico e a Tabela a abaixo demonstram a evolução da taxa de desemprego e outros indicadores relevantes do mercado de trabalho. A taxa de desocupação vem decaindo continuamente conforme indica a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc) do IBGE. Segundo o IBGE, a taxa de desocupação, que mede o desemprego, segue em queda e atingiu 7,9% no trimestre encerrado em julho, sendo a menor desde 2014. Verifica-se que o número de pessoas ocupadas cresceu, chegando a 99,3 milhões em julho, representando um aumento de 1,3% em relação ao mês de abril (trim.fev-abr.), ou um incremento de 1,3 milhão de pessoas.