Desde fins dos anos 70, quando o sindicalismo ressurgiu como movimento social no País, um particular conflito trabalhista tem mobilizado os corações e as mentes dos gaúchos com uma perseverança que não possuí melhor ilustração do que a própria ação simbólica de seus principais atores ao repicarem os sinos na Praça da Matriz. A frequência das greves do magistério público estadual do Rio Grande do Sul tem levado uma parte da sociedade rio-grandense a desenvolver, sob o estímulo da maior empresa de comunicação do Estado, uma explicação fantástica segundo a qual os professores, hipnotizados por lideranças irresponsáveis e com interesses escusos, estariam acometidos pela “síndrome do grevismo”.
Arrogando a si o papel de porta-voz dos interesses da comunidade, o jornal Zero Hora tem sido especialmente profícuo na disseminação de uma mentalidade antisindical; no caso, contrária à atividade do Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul/Sindicato dos Trabalhadores em Educaçåo (CPERS/Sindicato). Sem abandonar o bom-mocismo de que se revestem as idéias mais obscurantistas, a linha editorial do jornal vem apregoando, entre outras não menos relevantes, as seguintes acusações:
Um aspecto surpreendente deste debate tem sido a ausência de análises menos impressionísticas sobre a questão salarial do funcionalismo público em geral e do magistério em particular. Os estudos sobre a situação financeira da administração direta do Estado tratam basicamente de analisar os salários como um agregado de despesa, sem dedicar maior atenção ao tema das diretrizes e dos resultados da política salarial do governo. Apenas subsidiariamente, e sem maior profundidade, faz-se alguma referência a essa temática.
CALAZANS, Roberto B.; HORN, Carlos Henrique. (1992). Por que os sinos dobram? Conflito trabalhista e salários do magistério Público do Rio Grande do Sul, 1974-1991. Análise Econômica. Porto Alegre, Faculdade de Ciências Econômicas UFRGS, Vol. 10, n.º 18 setembro/92.