A frase do governador

O governador Sartori,  num desabafo de quem dirige um Estado quebrado, disse que “os servidores devem dar graças a Deus que têm estabilidade”. Isso foi dito num contexto em que os empregados da iniciativa privada estão estrando no regime de “layoff” (redução temporária dos salários) ou,  simplesmente, perdendo o emprego.
 
Isso, no entanto, não significa negar o direito à estabilidade, que é uma disposição constitucional e que, apesar dos problemas que causa em muitos casos, sua não existência poderia ser  pior. Sem ele, o serviço público poderia não ter a continuidade necessária, porque os servidores ficariam à mercê dos desígnios políticos do governante da ocasião.
 
Essa afirmação do governador não passou de uma constatação, mas mesmo assim,  causou grande descontentamento entre servidores e líderes sindicais, que pronunciaram  impropérios, desconhecendo a realidade, como se o Estado do RS fosse uma ilha cercada de dinheiro por todos os lados.
 
Aldous Huxley, autor do livro “Admirável Mundo Novo” dizia que “fatos não deixam de existir porque são ignorados”. Por mais que os líderes sindicais ignorem a verdadeira situação financeira do Estado, ela não vai deixar de ser o que é ou está. O dinheiro não brotará das árvores, nem cairá do céu, tal qual o sereno da madrugada.
 
A culpa do atual governador, se ela existe, foi a de ter aceitado governar um Estado que  já  sabia que estava falido.
 
Eu mesmo, ao examinar o orçamento para 2015, em outubro de 2014, já prenunciei um déficit oculto de R$ 5,4 bilhões, encoberto que estava por receitas fictícias e despesas subestimadas, fato esse que veio a se confirmar posteriormente.
 
Além disso, foram criadas despesas até 2018 com índices de crescimento até três vezes o do crescimento da receita. E, para piorar, quase todos os recursos extras foram esgotados.
 
Apesar do enorme corte de despesa em 2015, feito onde podia ser feito, porque na folha de pagamento há pouca margem de corte, o déficit praticamente se manteve, devido a um fato novo que foi a queda da arrecadação. Só o ICMS, principal item de arrecadação do Estado caiu 6% reais em outubro.
 
Os sindicalistas e os servidores têm todo direito e até o dever de  lutar por seus interesses,  mas também devem olhar para além de seu próprio umbigo.

 

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