Demagogia é o agente silencioso do mal

Há muito tempo venho defendendo uma ideia de que a corrupção, por mais abominável que seja, não é a principal causa de nossas mazelas, nem da crise financeira do setor público. A principal causa está na demagogia e na irresponsabilidade fiscal. Enquanto a primeira nos leva os milhões, as duas últimas nos levam os bilhões.

Não resta dúvida que o desvio de recursos do DETRAN causou prejuízo não só ao erário, mas também à nossa autoestima de gaúchos, porque sempre afirmamos, com orgulho, que não havia corrupção no Rio Grande do Sul, que sempre foi vista como uma prática de outras regiões do País.

Isso, no entanto, não autoriza ninguém afirmar que o problema das finanças do RS, como, de resto, do setor público em geral está na corrupção. O maior problema da crise dos governos está na irresponsabilidade fiscal e na demagogia.

E isso se prova aqui no RS, apenas com um exemplo: a pensão integral do IPE. A integralidade das pensões concedida generosamente pela Constituição de 1988 importa num acréscimo de gasto anual de R$ 500 milhões.

Se dividirmos essa importância por doze, teremos mais de R$ 41 milhões, o que significa mensalmente um gasto adicional equivalente ao desvio de recurso do DETRAN. Se considerarmos, ainda, o montante de pensões que estão em precatórios judiciais, em torno de R$ 3 bilhões, teremos gerado um montante de recursos equivalente a 75 vezes o valor surrupiado do citado órgão.

Mesmo que o pagamento integral das pensões tenha feito justiça em alguns casos, não cabe gerar uma despesa que perdurará por décadas, sem que tenham sido criados os recursos correspondentes. É nisso que vai o dinheiro que falta à saúde, à educação e à segurança pública.
É por tudo isso que um candidato para merecer nosso voto não basta ser honesto. Além de honesto, deve ser vigilante e responsável na discussão e votação de leis que criam despesa.
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JORNAL DO COMÉRCIO, 20/10/2009.

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